Há milênios o autoconhecimento é uma busca não só individual, mas de toda a humanidade. “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo”, disse Sócrates, evidenciando a necessidade humana de olhar para dentro de si antes de olhar para o externo. No mundo ativista, isso se torna essencial.
Somos bombardeados de informações constantemente, e somos frequentemente chamados para lutar contra as inúmeras injustiças do mundo. O tempo corre, a floresta queima, as guerras implodem e, na nossa minúscula individualidade, desesperamo-nos para resolver uma problemática de décadas, centenas ou até mesmo milênios. O mundo externo grita, esperneia, nos chama a atenção que deveria, a princípio, ser direcionada a nós mesmos.
Onde fica o ativista nisso tudo? Seus traumas e problemas, suas características singulares, suas preocupações – tentamos salvar o mundo e esperamos, quem sabe, que isso salve a nós mesmos. Mas como mudaremos nossas realidades se somos incapazes de mudar a nós mesmos?
O estoicismo (https://bit.ly/35n6mD4) tratou desse assunto ao longo dos milênios, surgido na Grécia Antiga, e prega o autoconhecimento como essencial antes que qualquer outra tentativa seja feita para consertar-se as injustiças do mundo. Se cada um olhasse para si, conhecesse a si mesmo, trabalhasse seus traumas e implicâncias, o caminho para a salvação mundial estaria meio andado.
Mas deixemos o resto do mundo de lado por alguns instantes e foquemos em você, pequeno ativista.
Muitos de nós vagamos o mundo em busca de nossos sonhos e objetivos, mas muitas vezes encontramos uma barreira singular: nós mesmos. O que realmente queremos? Esta é realmente a nossa causa? Confundimo-nos muito e acabamos por seguir o caminho que outros delimitam para nós.
Quando não nos conhecemos, procuramos avidamente a resposta para as nossas ânsias em outras pessoas e causas: perguntamos aos outros o que merecemos antes de fazermos a pergunta a nós mesmos. Ficamos dependentes da opinião alheia; sujeitamo-nos aos conselhos de outros, aceitamos críticas e ideias vagas e rasas – acima de tudo, negligenciamos nossos próprios talentos para ganhar a aclamação fácil, externa e passageira.
Há também a culpa, muitas vezes sentida por não sabermos expressar nossos desejos, por sermos incapazes de compreender o que realmente queremos. A verdade é que o autoconhecimento começa na infância, e não em nós mesmos, mas na habilidade de um pai ou responsável de nos conhecer e espelhar-nos. Quando essa habilidade falha, podemos crescer com a ideia de que não somos merecedores de atenção ou cuidado – nossos quereres realmente importam num mundo tão plural e diverso? E então a gente costuma afogá-los, deixá-los de lado por um tempo indefinido.
A luta é muito importante, claro; mas mais importante ainda é resolver os conflitos dentro de você. Cada ativista tem suas singularidades que merecem cuidado e carinho. Cada pessoa, ativista ou não, passa pelos seus problemas e complicações.
E então percebe-se a necessidade do autocuidado. Entender nossas limitações, nossos pontos fortes e fracos, é essencial para que saibamos perceber quando estamos prestes a surtar, quando estamos tristes, cansados ou indignados, e dar-nos uma merecida pausa, dando os mimos que nós sabemos gostar, vendo a nossa série ou música preferida.
Se você é o tipo de pessoa que coloca a causa acima de tudo, pensa por outro lado: quanto melhor você cuida de si mesmo, melhor você interage com outras pessoas, melhor você escuta as ideias de outros, melhor você executa seu trabalho e, consequentemente, melhor fica a causa e todos que lutam por ela.
Então, ativista, vamos dar uma pausa para se conhecer e crescer?