Blog, Juventude e Política Cultura Política: o que é? é de comer? como rola aqui no Brasil?

13 de novembro de 2020

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Por Carolina Oliveira, articuladora de São Borja/RS

Você, jovem, consegue se enxergar como agente político? Acha que sua voz tem poder de transformação? Quais mecanismos utiliza para isso? Você sente que a política não é para você e que as pautas são difíceis demais? Nos espaços de tomada de decisão, você se sente representado? Ou às vezes acha que a gente tá nadando contra a maré, e que não importa o quanto a gente grite, as estruturas de poder não vão mudar?

Esses conceitos são muito importantes de serem trabalhados, porque muitas vezes quando falamos de política pode parecer algo muito distante da nossa realidade, mas, como foi dito nas publicações anteriores da nossa campanha, choquem: toda decisão é política. O que você consome, como se posiciona, quem apoia… o poder é SEU! A democracia existe porque VOCÊ existe!

É complicado afirmar que teríamos uma Democracia Participativa no Brasil (nosso modelo é o representativo com mecanismos de participação popular), porque esse modelo inclui mudanças estruturais para garantir o uso efetivo desses espaços, o que, infelizmente, não acontece. Numa democracia participativa ideal, as pessoas devem passar por processos que, desde criança, fazem enxergar a potência de suas vozes e entenderem esses termos técnicos que parecem tão distantes. 

Os espaços de democracia participativa existem, mas a falta de cultura política nos fazem acreditar que eles são complexos demais para nós, e isso é perigoso. É preciso cobrar dos nossos representantes que eles apresentem os resultados que esperamos, que levem suas pautas de campanha em frente, que eles ajudem a consolidar esses espaços (lembre que os representantes políticos são gente como a gente: durante o mandato, eles trabalham para servir as pautas e interesses da população, então não somos nós que dependemos deles: eles que dependem de nós!)

Mas afinal, o que é cultura política, então? O conceito de cultura política inclui vários dos aspectos que compõe uma sociedade e tem a ver com como nos comportamos em relação às instituições e mecanismos que existem, como por exemplo: a afinidade da população de um país com as formas de governo, como o povo enxerga seus líderes (fortes, fracos, confiáveis ou não…) e o militarismo, se aquela população vê a democracia como benéfica ou não para a economia do país, o quanto separam a igreja do Estado… Isso tem a ver com alguns fatores estruturais: 

  • Suas tradições e instituições: No Brasil, a democracia é nova e historicamente passamos por diversos momentos autoritários. Isso influencia como nós enxergamos a política até hoje! Para uma pessoa de mais idade, pode ser muito difícil romper com essas estruturas. A democracia como conhecemos ainda é jovem e frágil, e ainda carrega as raízes elitistas da época coronelista: os mesmos homens brancos de terno dos mesmos partidos. Viu como o papel da luta jovem é essencial para mudança? Precisamos participar! 
  • Suas ideologias: As crenças e ideias de um povo influenciam diretamente o contexto que se vive naquele país, o que pode ser muito bom ou muito perigoso para a democracia. Num país plural como o Brasil, por exemplo, não existe uma hegemonia de crenças, daí também a importância da pluralidade! 
  • A opinião pública: A maneira como a população enxerga e como a mídia retrata a política e os nossos representantes influencia muito esse quesito. Daí precisamos nos perguntar: as estruturas foram feitas por quem e para quem? Essa mídia é realmente imparcial?

Esse último aspecto é muito importante, porque se refere direto a estrutura: se a educação foi feita para a elite, é difícil que ela queira educar as massas a participar, né non? Se grandes empresários têm influência nos meios de comunicação (ou até mesmo caso o governo controle eles), a informação vai ser transmitida de acordo com os valores deles. Isso não pode acontecer!

E no Brasil? Achamos que esse infográfico do Politize! referente a dados de 2015 pode ajudar a entender:

A cultura política no Brasil

 A partir disso, podemos concluir que a cultura política no Brasil é estruturalmente pouco democrática, pouco participativa, laica mas com influências religiosas, descrente dos políticos e da política e fortemente dividida ideologicamente. Mas então, se as pessoas não estão de acordo com isso, por que não mudam? É possível transformar essa estrutura? O que eu, jovem, posso fazer a respeito?

Esses dados não querem dizer que não nos importamos, e sim que fomos ensinados que a política não nos pertencia e que nossa voz não importava. Claro que quem tem todos os privilégios não quer dividir eles. Mas, nós já sabemos que isso não é verdade! Todo tipo de cultura é mutável e passa por constantes transformações, para cultura política não é diferente! E inclusive, quando ela é construída baseada no que é melhor para uma pequena parcela privilegiada da população, essa mudança é necessária para construirmos um país melhor.

Tendo a diversidade cultural e religiosa do Brasil, não seria justo que se tenha influência religiosa no Estado; se não nos sentimos representados ou não confiamos nos representantes, é preciso lutar e mudar para a retomada desses espaços (e o voto é só o primeiro passo!); se a participação é baixa e a população não entende a importância da democracia, isso reflete diretamente a falta de educação política, em que não entendemos o público como sendo de todos (e sendo nosso dever cuidar dele), vemos os espaços políticos como distantes, não conseguindo fazer a ligação entre eles e o nosso dia-a-dia, além de baixa percepção do papel do voto: muitas vezes, achamos que os políticos eleitos estão nos fazendo favores por cumprir seus papéis e são louvados como especiais se não forem corruptos, o que não reflete o que deveria ser: um cargo político é um serviço público, portanto os representes trabalham para a população.

Nós, jovens, temos grande acesso à educação e a informação, além de estarmos super conectados, o que nos permite enxergar realidades além das nossas. Isso é importante porque podemos criar uma rede de empoderamento: eu te ensino o que eu sei, você me ensina o que você sabe; eu ouço sua voz, você ouve a minha; se eu tenho privilégio de ocupar um espaço, devo lutar para que você tenha também; e assim vai. De passinho em passinho, somos nós, jovens, que vamos construir a democracia no Brasil do jeitinho que gostamos e queremos: plural, confiável, laica e inclusiva!

Referência bibliográfica: Politize! Cultura Política no Brasil

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